“O Konstantin Gavrilovich matou-se com um tiro.”
Assim terminou A Gaivota, de Anton Tchékhov. Depois, desceu o pano e o público presente na sala aplaudiu, entusiasmado, o desempenho daqueles jovens atores e atrizes, cenógrafos e figurinistas, técnicos e produtores. Estavam a terminar o curso de teatro.
Tal como Konstantin Gavrílitch, abraçavam expectativas e angústias em relação ao seu futuro enquanto artistas. Alcançariam a visibilidade que os colocaria no centro do palco, no encalce de novas formas ou, pelo contrário, estariam à beira do suicídio do seu projeto profissional?
Vinte anos depois, Miguel Fragata – um desses jovens atores – parte em busca do destino dos seus colegas e recupera fiapos das personagens, procurando imaginar a continuação do IV ato do texto de Tchékhov. A partir do terreno híbrido da ficção e da realidade, surge o espetáculo Só Mais Uma Gaivota, onde se entrelaçam as histórias dos artistas feitos personagens, depois de descido o pano e escrita a palavra “fim”.
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A estreia de Só Mais Uma Gaivota está marcada para setembro, no pequeno auditório do Centro Cultural de Belém (CCB).
Só Mais Uma Gaivota dará origem a diversos objetos paralelos (ver propostas complementares): o documentário Gaivotas em Terra, que resultará de um conjunto de entrevistas a cada um dos atores que fizeram parte da montagem de A Gaivota no final de curso da ESMAE; a conferência Bandos de Gaivotas que propõe um olhar para o passado, auscultando a memória das diversas montagens do texto de Tchekhov; a leitura encenada Uma Gaivota Comme Il Faut, que trará à vida o texto original de Tchékhov, numa abordagem partilhada com o público; e a exposição Diverse Laridae que desafiará jovens artistas de outras linguagens a um trabalho profundo sobre o texto e a sua pertinência no presente.