“O Konstantin Gavrilovitch matou-se com um tiro.”
Assim terminou A Gaivota, de Anton Tchékhov. Depois, desceu o pano e o público presente na sala aplaudiu, entusiasmado, o desempenho daqueles jovens atores e atrizes, cenógrafos e figurinistas, técnicos e produtores. Estavam a terminar o curso de teatro.
Tal como Konstantin Gavrilovitch, abraçavam expectativas e angústias em relação ao seu futuro enquanto artistas. Alcançariam a visibilidade que os colocaria no centro do palco, no encalce de novas formas ou, pelo contrário, estariam à beira do suicídio do seu projeto profissional?
Vinte anos depois, Miguel Fragata – um desses jovens atores – parte em busca do destino dos seus colegas e recupera fiapos das personagens, procurando imaginar a continuação do IV ato do texto de Tchékhov. A partir do terreno híbrido da ficção e da realidade, surge o espetáculo Só Mais Uma Gaivota, onde se entrelaçam as histórias dos artistas feitos personagens, depois de descido o pano e escrita a palavra “fim”.
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A estreia de Só Mais Uma Gaivota está marcada para 18 de setembro, no pequeno auditório do Centro Cultural de Belém (CCB).
Só Mais Uma Gaivota deu origem a diversos objetos paralelos (ver propostas complementares). Numa primeira fase, no Dia Mundial do Teatro, realizou-se a conferência Bandos de Gaivotas que propôs um olhar para o passado, auscultando a memória das diversas montagens do texto de Tchekhov, e a leitura encenada Uma Gaivota Comme Il Faut, que trouxe à vida o texto original de Tchékhov, numa abordagem partilhada com o público.
Agora, numa segunda fase, o espetáculo Só Mais Uma Gaivota verá a sua estreia acompanhada pela exposição Diverse Laridae, um desafio a cinco jovens artistas visuais a trabalharem profundamente sobre o texto e a sua pertinência no presente, e pelo documentário Gaivotas em Terra, que resulta de um conjunto de entrevistas a cada um dos atores que fizeram parte da montagem de A Gaivota no final de curso de Miguel Fragata, na ESMAE.